sexta-feira, 15 de junho de 2007

all you need is love

há pouco mais de quatro anos, eu fiz, talvez, a promessa mais boba de toda minha vida. na época parecia coerente. eu havia cansado de perder pessoas queridas, de todos os jeitos.

lembro que eu acordei com dor. uma dor no corpo, na cabeça, na alma. eu tava me tornando uma pessoa fria e amarga: prometi que nunca mais ia me apaixonar. é, eu e essa minha mania de achar que eu tenho o controle de tudo.

passaram-se muitos meses. e em meados de 2004, levei uma belíssima puxada de tapete do destino. como se ele me dissesse "quem manda em mim sou eu, não tu, pirralha".

e eu me apaixonei.

no começo eu fingia que não, que eu tava "só curtindo". mas ninguém sustenta uma mentira por tanto tempo.

furacões, tornados, terremotos, maremotos, desabamentos. e eu voltei a ter medo. peguei o desgraçado do destino pela gola da camiseta e cuspindo fogo, perguntei se eu não tinha razão de não querer nunca mais me apaixonar. ele continuou sorrindo pra mim e disse "não".

os meses passaram. os anos passaram.

eu posso dizer que 2007 tem sido o melhor ano da minha vida, desde muito tempo.
muita coisa boa acontecendo, mas, principalmente por causa do vinícius, que já é fundamental na minha vida.

eu devia fazer uma homenagem em praça pública, ou dar um troféu, uma medalha, botar um outdoor, contratar um avião pra jogar pétalas de rosa ou soltar foguetes na frente da casa dele, mas eu acho que nem tudo isso junto ia ser suficiente pra retribuir o que ele fez comigo.

é muito bom estar tão apaixonada, de novo.
'brigada, amor.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Invasões Bárbaras

quando alguém invade o espaço de outro, é uma baita desrespeito. tanto espaço físico quanto espaço moral.

hoje eu cheguei na clínica que eu trabalho, que atende DE GRAÇA centenas de crianças de classe média-baixa e me deparei com uma cena que eu nunca gostaria de ter visto: portas arrombadas, paredes quebradas, sujeira, armários revirados.
a TV de 14" que havia sido comprada com a ajuda das mães, que contribuíram com 2, 5 e 10 reais durante MESES, já não tava mais na sala de espera.
dos computadores que recém ganhamos depois de uma longa briga com as instituições responsáveis e, principalmente com o governo, só sobraram os fios.
a multifuncional que também tínhamos recém conseguido, já era.

me deu raiva, não tanto pelas coisas materiais (que, com esforço, vamos conseguir de novo), mas sim por me dar conta do quão vulnerável estamos. e como nos tornamos impotentes.
alguns pacientes meus choraram. de medo, de tristeza. gente que não tem nada, agora tem menos ainda.
outros pacientes, que parece que já nasceram com esse espírito de fênix, me ajudaram a bolar idéias pra arrecadar dinheiro pra uma TV nova ("eu gostava de ver bob esponja enquanto tu não me chamava pra sessão...") e pras grades que queremos colocar.

chego em casa, explico tudo o que aconteceu. depois de uns 10 minutos, minha irmã de 8 anos aparece com desenhos ("pra enfeitar a salinha"), uma sacola de brinquedos ("que ela não brinca mais") e muitas idéias pra arrecadar dinheiro pras coisas novas que temos que comprar. (algumas hilárias!)

não é porque ela é minha irmã, mas é por esse tipo de atitude que vale a pena brigar. eu espero que o mundo esteja um pouco melhor quando ela crescer.

e é só pelas minhas crianças que vão de havaianas pro atendimento às 8:00 de um dia de inverno, que não reclamam por ter que acordar cedo, que fazem um esforço enorme, lutando contra as condições sociais, emocionais, culturais e até cognitivas me mostrando que sim, são capazes de melhorar e de corrigir seus erros... é só por elas que eu tenho vontade de voltar lá amanhã.

quero que essas pessoas que invadiram e saquearam a clínica morram. e que os direitos humanos vão pra puta que pariu.

Eu não tenho dado.

vocês não fazem idéia do mundaréu de bugigangas que eu uso em terapia.

adoro esses joguinhos de 1,99! são perfeitos! além de baratos, podem ser incrementados com muita criatividade.


mas há algumas semanas venho sentindo falta de um DADO. sim, um dado: cubo, 6 lados, pontinhos pretos marcando a quantidade. nunca vi um dado pra vender. nem sei em que loja se compra um dado.


eis que domingo de noite, vejo minha irmã caçula faceira, brincando com um dado lindo de E.V.A. (não sabe o que é EVA, procura aqui), todo colorido, lindão. Perguntei com aquela cara de lobo faminto que vê um cordeirinho suculento, já babando:


- Luísa! Que dado lindo! De onde saiu?
- Ganhei na pescaria da festa junina do ano passado. é do 1,99.


pensei em pedir, mas fiquei com pena da guria visto que eu volta e meia roubo os brinquedos e jogos dela pra usar nas terapias. pensei em roubar, mas ela ia desconfiar de mim. aí, achei melhor ir comprar um.


hoje, saindo do consultório, fui até uma loja de 1,99 pra procurar o bendito dado. me deparo então com a pergunta clichê que eu NÃO PODERIA fazer aos donos da loja. eu não poderia perguntar, por exemplo:


- oi, o senhor tem dado?


comecei a ficar nervosa, rindo sozinha.

andei pela loja inteira, o que não levou mais de 10 segundos. ninguém me perguntou nada. ninguém ofereceu ajuda. e eu não tinha como perguntar se eles tinham ou não o que eu queria. não me vinha outra coisa na cabeça senão a maldita piadinha infame.


passaram-se uns 5 minutos (uma eternidade!) e enfim, resolvi perguntar:


- oi, o senhor tem jogos em E.V.A.? (sorri por dentro por ter sido tão inteligente!)
- ahm...jogos não, tenho só aquelas letrinhas ali. o que tu queria?
- ah, eu precisava de um dado.
- não, não...só as letrinhas mesmo.


vejam que ele QUASE respondeu que ele não tinha dado, o que causaria um momento constrangedor pra nós dois.


agradeci e saí da loja.
nunca pensei que fosse tão complicado comprar um dado.