Ontem eu prometi pra Luísa que ia pegar um monte de livros que eu tinha guardado nesses lugares que fogem ao alcance dos olhos. Ficam ali, anos e anos escondidos e a gente fingindo que não existem e às vezes até esquecendo deles.
Ela, faceiríssima, ficou no pé da escada enquanto eu tentava sobreviver em meio aos ácaros que pulavam felizes pra dentro do meu nariz. Um livro e 10 espirros.
Era um mundo à parte. Como se aquela última prateleira funcionasse como um portal, e me transportasse pra 15 anos atrás.
Achei a coleção de livros com capa em alto-relevo que era o meu xodó. Achei a coleção "Fantasia", com as melhores e mais famosas fábulas infantis, com 5 volumes, capa dura, uma belezura. Achei livros da Disney, livros do colégio...mas, dentre todos, um dos dois livros que eu nunca esqueci, desde que eu li, na 4ª série: "A mochila que pesava demais". Quando achei ele quase chorei. Esse e "O presente de Tino" talvez tenham sido os livros mais importantes da minha vida. E eu me lembro de trechos deles até hoje e guardo comigo pra sempre.
O segundo eu ainda não achei no meio da bagunça, mas vou achar.
E o maior prazer de todos, não é nem ver a Luísa ansiosa ao pé da escada quase não conseguindo conter a alegria. Nem ver ela tagarelando frenética e nervosa enquanto eu passava um pano úmido nas capas...o prazer maior, a satisfação, o orgulho foi sentir ela em silêncio, absorvida, abduzida por aquele monte de pessoas, lugares e histórias, essas coisas que eram tão e só minhas, mas que seria o maior egoísmo do mundo não dividir. Principalmente com ela.
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