quarta-feira, 18 de abril de 2007

Indiferença

I will light the match this morning
so I won't be alone
watch as she lies silent
for soon that will be gone
oh, i will stand arms outstretched
pretend i'm free to roam
oh, i will make my way through
one more day in hell

Ela acabara de sair de uma aula de Metafísica (aristotélica). Uma nova graduação após sua formatura e final de sua pós-graduação. Aquelas últimas horas haviam sido magníficas e o ar de satisfação era visível em seu rosto. Poucas são as pessoas que apreciam tão perdidamente uma aula de Metafísica, mas para ela aquilo significava muito e o resultado era o êxtase após duas horas de Aristóteles. Foi para a casa do namorado.

How much difference does it make?

how much difference does it make?

Adentrou o ambiente como um raio de luz inconseqüente. Observou o ser na sala, sentado, lendo uma revista. Sentou no sofá em frente e esperou uma reação a sua presença. "Oi" foi uma resposta arrancada quase à força da criatura que respirava o mesmo ar que ela. "Tudo bem?" foi quase um estupro ao silêncio sepucral que se impôs. Foi uma pena a tentativa de contar como havia sido sua primeira aula no curso de Filosofia: a matéria na revista da década de 1980 era tão ou mais importante que não desviou a atenção nem o olhar do seu leitor. Ao ser indagado sobre a atenção que não recebera, a resposta recebida foi: "Quem sabe tu esperas eu terminar de ler pra vir me falar essas coisinhas?"

I will hold the candle

until it burns up my arm
oh, i'll keep taking punches
until their will grows tired
oh, i will stare the sun down
until my eyes go blind
hey, i won't change direction
and i won't change my mind

Levantou-se, não demonstrou nenhuma reação na frente do pseudo-interlocutor e dirigiu-se ao banheiro. Lá, naquela solidão confortante, pode chorar a vontade. Chorou por si, pela frustração da decisão tomada meses antes, chorou pela humanidade, chorou pelas mulheres e pelas mães, chorou pelo mundo machista e pela falta de atenção. Chorou sobre seus problemas. No entanto, minutos após, recompôs-se. Lavou o rosto e enxugou as lágrimas. Algo tornara-a diferente em cinco minutos de lamúrias e ela precisou agir: soube que, dali em diante, não precisaria, nunca mais, de um interlocutor como aquele (e especialmente aqueles) e, melhor ainda, que poderia ficar feliz por conta própria sobre suas decisões e realizações, sem precisar do aval de ninguém.

How much difference does it make?

how much difference does it make?

Saiu do banheiro, olhou para aquele ser sentado na mesma posição no sofá, lendo, provavelmente, o mesmo parágrafo pela enésima vez, e sentiu pena de si mesma. Quanto tempo, quanto tempo demorou. E o que cinco minutos me mostraram... "Eu vou terminar este relacionamento, não aqui, nem agora, mas vou", pensou. Claro, não pode deixar de pensar: "o que vão pensar de mim: terminei um relacionamento por causa de uma revista ou de uma aula de metafísica". Porém, logo este pensamento se desfez. Ora, era muito claro: primeiro, não devia satisfações a ninguém; segundo, ela estava perdendo algo que não pdoeria perder; por fim, ela sabia que se tratava de indiferença. Pura e simples indiferença, que era evidente em outras milhares de situações, mas que somente naquele momento fizeram sentido.

I'll swallow poison

until i grow immune
i will scream my lungs out
till it fills this room

A maioria dos seres humanos aprende que o contrário de "amor" é "ódio". Isto pode estar correto quando falamos de antônimos na Língua Portuguesa, mas quando se trata de relações humanas, a coisa é bem diferente. O contrário de "amor", sem dúvida, é "indeferença". É o não se importar, é o não valorizar, é o não estar junto à pessoa "amada".

How much difference…

how much difference…
how much difference does it make?
how much difference does it make?

Poucos dias depois, ela voltou ao mesmo local. Sua presença não fazia diferença naquele ambiente. Respirou fundo e resolveu ser feliz.

(Indifference, Pearl Jam)

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