domingo, 29 de julho de 2007

cada escolha, uma renúncia.

daqui alguns dias, vai fazer um ano que eu voltei da alemanha.
eu tenho essa mania nata de ficar fazendo "balanços", pensar e repensar sobre tudo o que aconteceu comigo.

todo mundo sabe que eu só voltei porque eu não consegui renovar o visto. eu teria ficado lá sem muitos problemas. amei o lugar, conheci gente fantástica e me adaptei perfeitamente à europa. eu tava num momento maravilhoso pra fazer aquele tipo de viagem e o melhor de tudo: fazendo um estágio exatamente na minha área. eu imagino que eu estaria muito bem se eu tivesse conseguido ficar. provavelmente teria estabilizado e legalizado minha situação e estaria ganhando dinheiro de algum jeito. não muito dinheiro, mas o suficiente pra me virar.

tudo isso, claro, se eu tivesse conseguido sobreviver ao inverno. porque eu nunca passei tanto frio durante um verão, como passei em munique. imagina nos meses que faz frio DE VERDADE...

pois é. mas tudo isso não passa de um "se...".
eu voltei meio a contragosto, mas voltei. e pouco a pouco fui me firmando na minha profissão. hoje eu tenho vários trabalhos e pacientes no consultório. já tenho uma pós-graduação engatilhada e projetos semi-concretos pro mestrado.

tou feliz, apaixonada e cheia de planos possíveis.
sempre que a gente faz uma escolha, mesmo que essa escolha seja forçada, como no meu caso, a gente ganha e perde.
eu perdi uma chance quase única de morar na europa. mas ganhei tantas outras coisas com a minha volta, que talvez o destino tenha acertado em me mandar de volta.


"Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de
verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se
errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."

(Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser)

domingo, 15 de julho de 2007

Enquete 2

Faz tempo que não posto aqui no blog, que a Mari, tão gentilmente, abriu-me espaço. Confesso que não foi por falta de vontade, mas por falta de tempo e de criatividade. No entanto, continuei leitora assídua e, hoje, ao ver o tópico sobre a enquete das cotas, não pude deixar de me manifestar.

Em primeiro lugar, resolvi escrever porque não acredito nesta pretensa objetividade e parcialidade que muitas pessoas apregoam por aí. Entre outras coisas, como o próprio debate epistemológico sobre a inexistência da objetividade, acho que viemos ao mundo para dar a cara à tapa, ou seja, demonstrar nossas opiniões, dizer o que pensamos e sentimos, e sermos passíveis de recebermos críticas e elogios por isso.

Acredito que este post complementar ao da Mari seja importante para, acima de tudo, acima de evidenciar a minha posição favorável (não sem críticas) em relação à implementação do sistema de cotas na UFRGS ou em qualquer universidade brasileira, seja importante para esclarecer algumas coisas que, insistentemente, esta imprensa fascista teima em negligenciar, omitir e distorcer, para, eternamente, garantir a permanência da ordem instituida, como se vivêssemos em um mundo que não precisasse ser urgentemente modificado.

Vamos lá, então:

Desfazendo o primeiro mito, que considero o mais insistente: as cotas não são racistas, como muitos têm apregoado. O primeiro critério para inclusão nos 30% das cotas é o critério sócio-econômico, ou seja, TEM QUE SER ALUNO DE ESCOLA PÚBLICA. Destes 30%, 50% são destinados a afro-descentedes.

Em segundo lugar, as cotas não terminam com o critério da "meritocracia" (o que estabelece que passam no vestibular aqueles que estudam/sabem mais). Se tu é um aluno da escola pública, negro, e passa com 800 pontos em Medicina, tu vai tirar o primeiro lugar de qualquer jeito, e não entrar por cota! Aliás, vocês já pararam para pensar se o critério atual de ingresso na universidade é válido e justo?

Por fim, porque poderia seguir com uma série de argumentos que sustentariam a minha defesa das cotas na universidade, não vou apelar à questão da "dívida histórica" para com as minorias. Simplesmente vou deixar claro que as condições não são as mesmas para todos, as regras são diferentes conforme a situação socio-econômica e o fenótipo da pessoa. Sinto muito em que se tenha que tomar medidas como estas (desiguais) para tentar, ao menos, um mínimo de igualdade de oportunidades, mas é mais do que necessário. Acredito que a principal medida que deveria e deverá ser tomada é um gigantesco investimento na escola básica, fundamental e média, mas medidas de choque precisam ser tomadas, igualmente, para que se desfaça esse comodismo de ver somente pessoas brancas no ensino superior. Este choque, nesta sociedade racista em que vivemos, onde o pior nem é o racismo explícito daqueles que picham a universidade com frases como "negro, volta pra senzala" ou "negro só na cozinha do RU", mas o pior é o racismo velado, aquele que vem a tona quando os privilégios históricos conquistados vão ao chão.

Coisa nojenta foi ver a manifestação dos anti-cotas, maioria de pré-vestibulandos com mochilas "Fleming", "Pré-med", e outros cursinhos que cobram até 1.300 reais por mês. Querem passar no vestibular? Estudem. Independente de existir cotas ou não, de serem 3 ou 40 vagas, se vocês pagam cursinhos exorbitantes e são tão inteligentes assim, vocês vão passar no vestibular.

sábado, 14 de julho de 2007

enquete

a partir de hoje, até o dia 13 de setembro, estará acontecendo uma enquete através de uma janelinha pop up aqui neste blog.

cada vez que alguém acessar o outrasmentiras, a janelinha vai aparecer. isso não significa que vocês tenham que votar todas as vezes, logicamente.

o assunto da vez são as cotas nas universidades públicas. dá pra comentar na própria enquete, se quiserem. dá pra fechar a janela sem votar, também, porque este blog é democrático (pelo menos até onde eu acho que ele deva ser.) :)

VOTEM!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

canalhices

no ônibus, dois guris sentados atrás de mim:

- e aí, meu?! tá sabendo da festa dos guris sábado?
- não, que festa?
- bah, festerê forte, na casa do Evandro.
- sábado?
- é. só não sei o que vou dizer pra minha mina.
- ah, é festa sem mulher?
- sem as NOSSAS mulher! (risadas) pior que eu durmo na casa dela nos finais de semana. vou ter que inventar que eu tou doente, que não vou poder dormir lá, senão vai fuder a night.
- bah, meu.
- ah, certo. digo com jeitinho "amorzinho, não vai dar pra dormir aí hoje, tou cansado, gripado..." aposto que ela ainda vai me tratar bem no outro dia.
- bah, não sei se eu consigo mentir pra minha mina, meu.
- ah, pára! bom, eu vou aparecer lá, sem dúvida. as mina que o cara consegue são umas cachorrona. tá, vou descer na próxima, meu. qualquer coisa dá uma ligada. falou.
- falou.

canalhice pouca é bobagem.
não dá. hoje em dia é um olho no gato e o outro no peixe. ou um olho no cachorro e outro na piranha, se preferirem.
me roí de raiva.

terça-feira, 3 de julho de 2007

não há amor que resista ao caos.

1. renan calheiros, lula, o resto da corja e a sujeira impregnada no planalto central.
2. o bando de filhinhos-de-papai mimado que agrediu a mulher de graça na parada do ônibus.
3. o sistema de cotas na ufrgs e no resto do brasil.
4. bala perdida na assis brasil e uma vida a menos.
5. balas perdidas no rio, muitas vidas a menos e o pan querendo maquiar a situação.
6. médicos que não sabem diferenciar um infarto de um ataque de asma. mais uma vida a menos.
7. gente que ainda lava a calçada de mangueira.
8. gente que ainda não separa o lixo.
9. o medo traduzido: falta de educação e mau-humor.
10. o apagão aéreo.
11. a seleção do dunga.
12. arrastão no centro de porto alegre.

eu sempre amei esse país e todo mundo sabe. mas não há amor que resista ao caos.
ou a gente acorda ou vamos todos juntos, pra muito além do fundo do poço.

eu quero ir embora - de novo.

tá foda.