quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

2006

(quem fez esse cartão foi o Pedro Marques, designer e meu amigo)

domingo, 25 de dezembro de 2005

Mutig

Tem gente bem mais apavorada que eu por causa do meu curso de alemão que não deu certo.
Tem gente querendo me fazer desistir da idéia de ir viajar SÓ porque eu NÃO SEI falar alemão.

Pra essas pessoas, venho com boas notícias:

minha ERMÃ querida, me tirou de amigo secreto e me deu um incrível dicionário de alemão, com gramática, cores, parte do corpo e mais outras coisas tri úteis.

Agora vai! Vocês vão ver!
Tem até dicas de pronúncia!
(Sabiam que aquele "B" meio style tem som de "ss"?)

Então, fiquem tranquilos! Eu vou me dar bem!

ele

Daí chega um dia em que a gente se sente meio bobo por não acreditar mais nele.
E a gente vê ele chegando
Tocando o sino
De barba branca e de saco cheio. de presentes.

E dá um frio na barriga
(A roupa dele cheira a naftalina)

Papai Noel não cansa nunca?
Caminha devagar
Fala devagar
Abraça devagar

O meu coração ainda fica acelerado, devo admitir.
Os meus olhos se enchem de lágrimas
A pequena Luísa segura minha mão com força
Ansiosa pela Barbie Fada (esse ano é pela Barbie Fada)

Mal sabe a pequena que sou eu quem seguro a mão dela
E seguro as lágrimas também

Querido Papai Noel: não quero a Barbie Fada. Nem nenhum outro brinquedo.
Eu me comporto o ano inteiro
pra ver o sorriso da Pequena
pra ver os olhinhos dela brilhando
pra ver o senhor chegando
e levando os meus problemas por um segundo
pra que eu possa novamente ter o direito de me sentir pequena como a Luísa.


~ Não sei da noite de vocês, mas a minha, tenho certeza absoluta, é sempre muito, muito feliz. Porque eu tive a sorte de nascer na melhor família do mundo.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005


So this is Xmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun
And so this is Xmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young
A Merry Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear
And so this is Xmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The world is so wrong
And so happy Xmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let's stop all the fight
John Lennon - Happy Christmas (War Is Over)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

-oi, vim fazer minha inscrição pro curso intensivo de alemão, agora em janeiro.
-ah, claro, pode preencher essa ficha, por favor.
-(lê os meus dados) ah, vais fazer alguma especialização por lá?
-é, na verdade serão estágios.
-legal. qual cidade?
-munique.
-ah, vais gostar de lá!
-espero.
-e quando tu vai?
-em abril.
-ah, então já tens alguma noção da língua...
-hm. não.
-(olhos arregalados) tu sabe que o intensivo é o nível mais básico né?
-sei.
-(quase desesperada) tu sabe que não vai dar tempo de tu fazer o módulo dois?
-aham.
-(quase me sacudindo pelos ombros) tu vai viajar sabendo o BÁSICO de alemão, sabia?! Alfabeto, dias da semana, números, "oi", "tchau", "bom dia"...só isso...
-sim.
-(senta na cadeira e respira) bom, nós temos professores particulares também...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Pessoas

Eu gosto de pessoas. Principalmente das minhas pessoas. Daqueles que viajam 6, 8 ou até 10 horas pra receber um atendimento de 20-30 minutos em um ambulatório do SUS, onde na sala de espera faltam cadeiras.
E a gente não sabe se dá prioridade praquela senhora de 78 anos que viajou desde às 4 da manhã, ou praquela mãe com o bebê recém saído da UTI, que carrega (de ônibus) um balão de oxigênio que garante a vida do filho.
Eu não sei se gosto mais dos olhos ansiosos que me seguem quando eu chego, ainda com sono, ou se gosto do sorriso tímido que sempre brota no canto da boca, no final da sessão, soando como um alívio.
Não sei se gosto mais quando essas pessoas me emocionam todos os dias com suas histórias heróicas, por vezes inacreditáveis, ou quando dizem, com o maior amor do mundo, que dariam a própria vida pra tirar “aquele tubo da garganta do filho”.
Eu só não gosto quando eu sou obrigada a usar jaleco branco, jaleco esse que acaba funcionando como uma grande muralha no início, distanciando a gente dessas pessoas incríveis. Não gosto quando me chamam de “doutora”. Não gosto quando eles perguntam “quanto é cada sessão?”, não gosto quando eu não posso atender de graça.
Não gosto das expressões “lista de espera”, “não dá”, “não pode”, “não tem leito” e “o SUS não paga isso ou aquilo”, “a agenda tá lotada” e nem “não dá pra fazer”.
Eu gosto do sorriso dos pais quando, depois de meses, conseguimos dar uma colherada qualquer de comida pra criança por onde ela sempre deveria ter entrado: pela boca e não pelo tubo que vai do nariz até o estômago.
Eu gosto do abraço trêmulo dos velhinhos e gosto quando me chamam de “minha filha” e me apertam as mãos como se me abençoassem, me fazendo encher os olhos de lágrimas.
Eu gosto de achar furos nas agendas e atender até mais tarde “só hoje, pra ver se ele melhora mais um pouco”.
Eu gosto tanto, mas tanto do que eu faço que, não fossem as minhas próprias contas, faria tudo de graça. E gosto tanto, mas tanto dessas pessoas que admiro cada uma delas com a maior verdade do mundo.
Eu não tenho muita experiência.
Muitas vezes, eu não sei o que responder pros pacientes, nem pra equipe médica, nem pra família.
Mas eu tenho tanto amor pela minha profissão e acredito tanto nela, que eu saio de lá leve, e com a plena certeza de que eu fiz tudo o que eu podia pra melhorar a vida daquelas pessoas pelo menos por mais um dia. Incríveis pessoas.

Mirandolina

Oh, mas isso é uma maravilha! O excelentíssimo Sr. Marquês da miséria estaria disposto a casar comigo? Acontece, porém, que se ele quisesse, haveria uma pequena dificuldade: EU não o quereria. A nobreza não se adapta à minha pessoa. Todo meu prazer consiste em ver que os outros me adoram, me desejam, me obedecem. Esta é a minha fraqueza. Aliás, tenho a impressão de que é a fraqueza de quase todas as mulheres. Quanto ao casamento, nem se fala: não preciso de ninguém; vivo honestamente e tenho a minha liberdade. Gosto é de zombar destas caricaturas de amantes desesperados. E quero usar todas as artes para derrotar, esmagar e espezinhar aqueles corações bárbaros e selvagens que nos hostilizam. A nós, as mulheres, que somos a melhor coisa produzida na terra pela mãe natureza.

Mirandola - de Carlos Goldoni
Personagem: Mirandolina
Ato I - Quadro I


Paixão por esse texto desde a primeira vez que botei os olhos nele.
Sei decor. Até interpreto se alguém quiser, insistir e fizer muita questão.
E de brinde, faço o cover da Nelly Furtado cantando "I'm like a bird".

...porque eu ando demasiadamente desprendida de tudo e de todos.

domingo, 11 de dezembro de 2005

Wünsch du mir Glück


Eu já havia dito -e provei- que esse blog não é pouca coisa.

Desde que o Outrasmentiras nasceu, tivemos correspondente nos últimos grandes eventos musicais interessantes: Claro que é Rock e o show do Pearl Jam. (Aguardem resenha do show dos Stones em Buenos Aires, em fevereiro).

Então, nada mais normal do que termos correspondente na Alemanha, durante a Copa do Mundo.

Fiquem atentos e comecem a pensar na lista de encomendas. Prometo me esforçar para trazer os pedidos de vocês na mala, além do Hexacampeonato, lógico. Já adianto que não vou trazer nenhuma alemã peituda.

Mas se eu conseguir fazer uma grana extra vendendo latinhas de cerveja, refri e água na porta do estádio, ou sambando em cima do balcão dos pubs de Munique, prometo que trago umas lembrancinhas pra quem provar que ficou com saudades.

Ah, cruzem os dedos pra eu conseguir ficar lá até a Oktoberfest.

domingo, 4 de dezembro de 2005

Flores Partidas


Só o fato de ter o nome do Bill Murray nos créditos já é suficiente pra garantir um excelente filme.

Mais uma vez, o injustiçado Murray dá um show de interpretação na pele do solteirão mulherengo Don Johnston que, já no começo do filme, se depara com uma delicada situação minutos depois de ser deixado pela namorada- recebe uma carta anônima e cor-de-rosa que revela: Don tem um filho.

A partir daí, incentivado pelo vizinho Winston (Jeffrey Wright, igualmente impecável), um etíope fascinado por detetives e viciado em investigar casos policiais, Don vai atrás de cinco namoradas que teve há 20 anos para tentar obter alguma pista sobre o suposto filho.

Flores Partidas (Broken Flowers) possui uma riqueza inumerável de detalhes que fazem toda a diferença: desde a imagem do retrovisor, presente em todas as viagens de Don, até a trilha sonora (Mulatu Astatke, um jazzista etíope misturado com Marvin Gaye e rock alternativo), passando pelo semblante inconfundível de Murray como o "homem de emoções represadas, mas indisposto a romper o dique para deixá-las sair" e participações grandiosas de Sharon Stone e Jessica Lange.

O final surpreende mais pela precisão do que por qualquer outra coisa. O diretor e roteirista Jim Jarmusch consegue finalizar a obra no momento exato, deixando o público com um confortável ponto de interrogação na cabeça.

Uma comédia dolorida ou um drama cômico. Qualquer um dos rótulos cabe, na tentativa de definir a incômoda dor de Don Johnston que, mesmo implícita, pula aos olhos dos espectadores mais sensíveis: em toda sua vida de Don Juan (título que Don abomina durante o filme), nunca conseguiu saber, afinal, de qual das mulheres ele gostou de verdade. Se é que gostou. A frase da namorada, no início do filme, resume a situação: "Don, você me trata como sua amante mas nem sequer é casado."

Da mesma linha de Encontros e Desencontros, Flores Partidas surge glorioso como um road movie onde o protagonista, ao invés de buscar experiências novas, vai reencontrar o passado.

sábado, 3 de dezembro de 2005

E continuaram na cama, deitados um sobre o outro, naquele êxtase que deixa as pernas moles...só que a frase dela soou como uma facada e doeu-lhe o peito... fez ele despertar daquele estado de letargia como num susto.

-Sabe por que eu resolvi voltar atrás dessa vez?
-não...
-É que eu tou indo embora.
-como assim embora?
-eu vou viajar.
-pra onde?
-pra europa.
-quando?
-mês que vem.
-e volta quando?
-não sei se eu volto.

silêncio...

-daí eu pensei que a gente teria que se despedir e...
-eu não quero me despedir!
-nem sempre a gente faz só aquilo que quer. mas olha...eu preciso te dizer uma coisa...é que tem uma frase que eu só falei pra um cara até hoje...e que eu tenho certeza de que eu posso tranquilamente repetir pra ti...

e cochichou-lhe um eu te amo ao pé do ouvido que fez ele se arrepiar e encher os olhos de lágrima.

-eu sei que tu sempre soube disso. mas entre saber e ouvir, tem diferença. e como talvez a gente nunca mais se veja, eu pensei que...
-como assim, nunca mais vamos nos ver?!
-ué, eu não sei por quanto tempo eu vou ficar longe e não sei como vão estar nossas vidas quando eu voltar - SE eu voltar... e mesmo que a gente continue se falando, não é a mesma coisa....a gente vai acabar se distanciando até esquecermos um do outro. isso é natural.

silêncio...
ele envolvia-na com os dois braços ao redor da cintura, como se não fosse nunca mais deixar ela ir embora.

-eu quero que tu lembre dessa frase que eu te disse, tá? eu não costumo dizer isso pra qualquer um.
-eu sei.

Silêncio...

-quando tu terminar de ler o livro que eu te recomendei, tu vai entender por que eu vou dizer isso:

e voltou a aproximar a boca da orelha dele, como se falasse um segredo:

-eu te amei com todo o peso e com toda a leveza do mundo.
-por que tu falou o verbo no passado, agora?
-porque eu não tenho mais tempo de praticar ele.
-tem um mês ainda.
-um mês é pouco...eu pratiquei ele sozinha durante quase um ano...e tem uma coisa... na verdade eu viajo amanhã...tu sabe que eu sempre procuro encurtar as despedidas...
-eu vou sentir saudades...
-promete que vai te cuidar?
-aham.
-tu sabe que amor não morre nem acaba, né?
-não?
-não. ele se transforma em outros sentimentos. que nem células-tronco.
-hmm..então pode se transformar em raiva também? em desprezo?
-pode.

silêncio...

-mas não é o caso. eu vou torcer por ti e desejar as melhores coisas, sempre.
-tá.
-agora me deixa ir.
-espera....
-o quê?
-toma o último gole do vinho pra não ir fora.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

In: sensível

Hoje eu tava conversando sobre talentos e virtudes e depois, como de praxe, segui pensando no assunto e tirando minhas conclusões.
Me dei conta de que eu não tenho nenhum talento pra criar textos e poemas que emocionam e fazem pensar. Mas em contrapartida, tenho talento pra apreciar essas coisas e me emociono com uma facilidade absurda. Consigo apreciar a letra separada da música, coisa que muita gente me recrimina. Às vezes, nem sei do que se trata a letra, mas me arrepio só com a música. Noutras, leio a letra antes de ouvir as notas e já basta pra me encher os olhos de lágrimas.
O rodrigoluiz, dono do blog aí do lado, consegue me atingir em cheio sempre. Não é rasgação de seda, ele sabe que é verdade.
Pink Floyd com Learning to Fly também.
Beatles nem se fala.
Faming Lips com Do you realize?, Fight Test e When You Smile também.
Alphonsus Gimaraens com o poema Ismália.
Ben Folds com quase todas.
Yann Tiersen com a trilha do filme da Amélie...

esses são os principais.

Sendo assim, deixo aqui mais um desses poemas que me arrepiam inteira, porque hoje eu tou tri sensível:

RESSÁBIO
Antonio Augusto Ferreira

Você não abra mais o seu sorriso
Porque eu posso pensar que foi pra mim.
Da outra vez me veio sem aviso
E então meu coração ficou assim

Foi um girar de céu e me bateu na alma,
Me envenenou o sangue, me atingiu em cheio,
E eu fiquei perdido e me sumiu a calma,
Me tremeu a base e me rachou no meio

Este andar de bobo, esta barriga fria,
Esta judiaria de esperar querendo...
E o engolir palavras, me fazer de mudo,
E o sonhar com tudo,mesmo nada tendo

Foi você chegar e me parei aceso,
Foi você sorrir e me cristalizou,
Me frouxou as pernas, me secou a boca,
Me molhou a roupa e me petrificou

E foi você partir, e meu melhor pedaço
Se quebrou em cacos e se foi pro ar.
Agora não me tente irresponsavelmente,
Que eu preciso tempo pra me remendar.

Mas é Claro



Sexta passada me mandei para São Paulo para conferir de perto as atrações do Claro Que É Rock, promovido pela famosa empresa de telefonia celular.

Já no sábado, chegamos ao local por volta das 19:30, estrategicamente a tempo de perder a apresentação da banda Good Charlotte - banda essa que possui um visual mezzo Charlie Brown Jr. mezzo Sérgio Malandro -, porém, ainda deu tempo de ouvir um "good night Rio" antes da saída da banda do palco.

A próxima atração no palco oposto foi a Nação Zumbi. Sempre admirei essa galera de Recife, tão elogiada no mundo todo e semi-ignorada em seu país. A mistura de modernidade, regionalismo, rock and roll e boas letras, credencia a banda como a melhor do Brasil (sem dúvidas) e uma das mais vanguardistas no cenário-rock mundial. Seu show? Excelente, como os outros 5 ou 6 que eu já havia visto deles.

A cada música finalizada, os minutos que antecediam o show tão aguardado por mim diminuiam (sim, eu sou um tiete). Mas como o palco que seria usado pelos Flaming Lips era o mesmo da Nação Zumbi, ainda teríamos um show antes de Wayne Coine e cia se apresentarem. E esse show seria a performance da banda estepe Fantômas, que acabou substituindo de última hora a Suicidal Tendencies. O som do Fantômas, poderia ser definido como diarréia musical ou rock churriu. Mike Patton despejava esquisitíces sem nenhuma idéia boa aparente, apenas tentava ser o mais estranho e esquisito possível. Um dos passatempos que criei enquanto ouvia o show, de costas para o palco era o de descobrir alguma nota musical no meio das músicas.

Enquanto isso, eu, na beira do palco oposto, grito para o líder dos Flaming Lips "uueeeiiniiii", e não é que ele ouve e me abana? Melei as cuecas.

"Quero que vocês contem para todos que não vieram que eu desci de uma nave espacial, dentro de uma bolha, direto nos braços do público". Assim começou o espetáculo em forma de show musical dos Flaming Lips. Wayne cumpriu a promessa e desceu dentro de uma bolha, enquanto a banda tocava Race for the Prize. Paralelo, um telão emitia cores e frases extremamente coloridas e fãs pescados antes do show dançavam em cima do palco vestidos de bichos de pelúcia-gigante. Simplesmente antológico.



Ainda surgiriam ETs, sóis e papais noéis, além da participação de um fantoche cantando Yoshimi, do uso de um teclado de criança para emitir sons de animais, da bazuca de serpentinas coloridas usadas por Coine e das covers de Bohemian Rapsody (que fez o público inteiro se emocionar e dos petardos próprios, os Flaming Lips ainda fariam mais uma cover tocando War Pigs do B. Sabbath, em forma de protesto contr a guedda do Iraque.

O que se seguiu ao show, eu não poderei falar muito, pois fiquei atordoado por um bom tempo. Mas destacaria a saúde do Iggy Pop, que colocou abaixo os espectadores no auge dos seus 58 anos (carinha de 70 e corpinho de 25) com sua calça começando no meio da bunda.

Ainda teríamos a apresentação quase sonsa do Sonic Youth e o vigoroso e testosterônico show do Nine Inch Nails. Mas já era tarde demais, Trent Raznor reclamava demais e tinha angústias adolescentes demais para um senhor que beira os 40.

A alegria venceu a tristeza, mais uma vez.