Faz tempo que não posto aqui no blog, que a Mari, tão gentilmente, abriu-me espaço. Confesso que não foi por falta de vontade, mas por falta de tempo e de criatividade. No entanto, continuei leitora assídua e, hoje, ao ver o tópico sobre a enquete das cotas, não pude deixar de me manifestar.
Em primeiro lugar, resolvi escrever porque não acredito nesta pretensa objetividade e parcialidade que muitas pessoas apregoam por aí. Entre outras coisas, como o próprio debate epistemológico sobre a inexistência da objetividade, acho que viemos ao mundo para dar a cara à tapa, ou seja, demonstrar nossas opiniões, dizer o que pensamos e sentimos, e sermos passíveis de recebermos críticas e elogios por isso.
Acredito que este post complementar ao da Mari seja importante para, acima de tudo, acima de evidenciar a minha posição favorável (não sem críticas) em relação à implementação do sistema de cotas na UFRGS ou em qualquer universidade brasileira, seja importante para esclarecer algumas coisas que, insistentemente, esta imprensa fascista teima em negligenciar, omitir e distorcer, para, eternamente, garantir a permanência da ordem instituida, como se vivêssemos em um mundo que não precisasse ser urgentemente modificado.
Vamos lá, então:
Desfazendo o primeiro mito, que considero o mais insistente: as cotas não são racistas, como muitos têm apregoado. O primeiro critério para inclusão nos 30% das cotas é o critério sócio-econômico, ou seja, TEM QUE SER ALUNO DE ESCOLA PÚBLICA. Destes 30%, 50% são destinados a afro-descentedes.
Em segundo lugar, as cotas não terminam com o critério da "meritocracia" (o que estabelece que passam no vestibular aqueles que estudam/sabem mais). Se tu é um aluno da escola pública, negro, e passa com 800 pontos em Medicina, tu vai tirar o primeiro lugar de qualquer jeito, e não entrar por cota! Aliás, vocês já pararam para pensar se o critério atual de ingresso na universidade é válido e justo?
Por fim, porque poderia seguir com uma série de argumentos que sustentariam a minha defesa das cotas na universidade, não vou apelar à questão da "dívida histórica" para com as minorias. Simplesmente vou deixar claro que as condições não são as mesmas para todos, as regras são diferentes conforme a situação socio-econômica e o fenótipo da pessoa. Sinto muito em que se tenha que tomar medidas como estas (desiguais) para tentar, ao menos, um mínimo de igualdade de oportunidades, mas é mais do que necessário. Acredito que a principal medida que deveria e deverá ser tomada é um gigantesco investimento na escola básica, fundamental e média, mas medidas de choque precisam ser tomadas, igualmente, para que se desfaça esse comodismo de ver somente pessoas brancas no ensino superior. Este choque, nesta sociedade racista em que vivemos, onde o pior nem é o racismo explícito daqueles que picham a universidade com frases como "negro, volta pra senzala" ou "negro só na cozinha do RU", mas o pior é o racismo velado, aquele que vem a tona quando os privilégios históricos conquistados vão ao chão.
Coisa nojenta foi ver a manifestação dos anti-cotas, maioria de pré-vestibulandos com mochilas "Fleming", "Pré-med", e outros cursinhos que cobram até 1.300 reais por mês. Querem passar no vestibular? Estudem. Independente de existir cotas ou não, de serem 3 ou 40 vagas, se vocês pagam cursinhos exorbitantes e são tão inteligentes assim, vocês vão passar no vestibular.
2 comentários:
muito bom tu ter escrito, carol.
eu vou me manifestar só depois que a enquete acabar, como já era esperado.
:*
O que raramente citam, é o real objetivo de toda a idéia das cotas pra negros: formar uma classe média negra forte. Isso não existe por razões históricas que a gente conhece bem.
Não é nada dado de "graça". É um empurrão, para que o equilíbrio se forme com o tempo.
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