sábado, 3 de dezembro de 2005

E continuaram na cama, deitados um sobre o outro, naquele êxtase que deixa as pernas moles...só que a frase dela soou como uma facada e doeu-lhe o peito... fez ele despertar daquele estado de letargia como num susto.

-Sabe por que eu resolvi voltar atrás dessa vez?
-não...
-É que eu tou indo embora.
-como assim embora?
-eu vou viajar.
-pra onde?
-pra europa.
-quando?
-mês que vem.
-e volta quando?
-não sei se eu volto.

silêncio...

-daí eu pensei que a gente teria que se despedir e...
-eu não quero me despedir!
-nem sempre a gente faz só aquilo que quer. mas olha...eu preciso te dizer uma coisa...é que tem uma frase que eu só falei pra um cara até hoje...e que eu tenho certeza de que eu posso tranquilamente repetir pra ti...

e cochichou-lhe um eu te amo ao pé do ouvido que fez ele se arrepiar e encher os olhos de lágrima.

-eu sei que tu sempre soube disso. mas entre saber e ouvir, tem diferença. e como talvez a gente nunca mais se veja, eu pensei que...
-como assim, nunca mais vamos nos ver?!
-ué, eu não sei por quanto tempo eu vou ficar longe e não sei como vão estar nossas vidas quando eu voltar - SE eu voltar... e mesmo que a gente continue se falando, não é a mesma coisa....a gente vai acabar se distanciando até esquecermos um do outro. isso é natural.

silêncio...
ele envolvia-na com os dois braços ao redor da cintura, como se não fosse nunca mais deixar ela ir embora.

-eu quero que tu lembre dessa frase que eu te disse, tá? eu não costumo dizer isso pra qualquer um.
-eu sei.

Silêncio...

-quando tu terminar de ler o livro que eu te recomendei, tu vai entender por que eu vou dizer isso:

e voltou a aproximar a boca da orelha dele, como se falasse um segredo:

-eu te amei com todo o peso e com toda a leveza do mundo.
-por que tu falou o verbo no passado, agora?
-porque eu não tenho mais tempo de praticar ele.
-tem um mês ainda.
-um mês é pouco...eu pratiquei ele sozinha durante quase um ano...e tem uma coisa... na verdade eu viajo amanhã...tu sabe que eu sempre procuro encurtar as despedidas...
-eu vou sentir saudades...
-promete que vai te cuidar?
-aham.
-tu sabe que amor não morre nem acaba, né?
-não?
-não. ele se transforma em outros sentimentos. que nem células-tronco.
-hmm..então pode se transformar em raiva também? em desprezo?
-pode.

silêncio...

-mas não é o caso. eu vou torcer por ti e desejar as melhores coisas, sempre.
-tá.
-agora me deixa ir.
-espera....
-o quê?
-toma o último gole do vinho pra não ir fora.

2 comentários:

Anônimo disse...

o detalhe do vinho no final, gênial.

Anônimo disse...

concordo plenamente. eu jamais imaginaria um detalhe desses...