"Imagens são sempre reais, ainda que todo o conteúdo seja falso."
domingo, 4 de dezembro de 2005
Flores Partidas
Só o fato de ter o nome do Bill Murray nos créditos já é suficiente pra garantir um excelente filme.
Mais uma vez, o injustiçado Murray dá um show de interpretação na pele do solteirão mulherengo Don Johnston que, já no começo do filme, se depara com uma delicada situação minutos depois de ser deixado pela namorada- recebe uma carta anônima e cor-de-rosa que revela: Don tem um filho.
A partir daí, incentivado pelo vizinho Winston (Jeffrey Wright, igualmente impecável), um etíope fascinado por detetives e viciado em investigar casos policiais, Don vai atrás de cinco namoradas que teve há 20 anos para tentar obter alguma pista sobre o suposto filho.
Flores Partidas (Broken Flowers) possui uma riqueza inumerável de detalhes que fazem toda a diferença: desde a imagem do retrovisor, presente em todas as viagens de Don, até a trilha sonora (Mulatu Astatke, um jazzista etíope misturado com Marvin Gaye e rock alternativo), passando pelo semblante inconfundível de Murray como o "homem de emoções represadas, mas indisposto a romper o dique para deixá-las sair" e participações grandiosas de Sharon Stone e Jessica Lange.
O final surpreende mais pela precisão do que por qualquer outra coisa. O diretor e roteirista Jim Jarmusch consegue finalizar a obra no momento exato, deixando o público com um confortável ponto de interrogação na cabeça.
Uma comédia dolorida ou um drama cômico. Qualquer um dos rótulos cabe, na tentativa de definir a incômoda dor de Don Johnston que, mesmo implícita, pula aos olhos dos espectadores mais sensíveis: em toda sua vida de Don Juan (título que Don abomina durante o filme), nunca conseguiu saber, afinal, de qual das mulheres ele gostou de verdade. Se é que gostou. A frase da namorada, no início do filme, resume a situação: "Don, você me trata como sua amante mas nem sequer é casado."
Da mesma linha de Encontros e Desencontros, Flores Partidas surge glorioso como um road movie onde o protagonista, ao invés de buscar experiências novas, vai reencontrar o passado.
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