domingo, 22 de novembro de 2009

era uma cicatriz
daquelas que mesmo depois de velha
ainda pulsa nos dias de chuva
sofria, queria ser esquecida, mas não sabia:
ninguém esquece uma marca que nunca quis
detestava ser uma lembrança dolorida

a cicatriz sonhava em ser tatuagem
um desenho bonito
uma borboleta, uma estrela, um rosto
queria ser pensada, escolhida
detestava ser uma lembrança dolorida

não gostava de ser escondida
ou eram as roupas, ou a maquiagem
era motivo de vergonha
ai, como sonhava em ser exibida
mas era só uma lembrança dolorida

até que um dia
acordou assustada
suja, coberta de sangue
havia sido recortada? arrancada?

mal sabia a coitadinha
que ali começava um novo dia
havia sido incluída
numa imagem bonita
não seria mais uma lembrança dolorida

nunca soube direito no que havia se transformado
só sabia que a vida havia mudado
desfilava nos dias de sol
recebia os pingos de chuva
agora, era uma ruguinha colorida
não era mais motivo de vergonha
nem de angústia
nem de lembranças doloridas

agora sim era quem queria
oficialmente, passou a fazer parte daquela vida
discretamente era carregada, camuflada
sentia-se importante, imponente
mas não passava de mais uma marca,
um trecho,
um verso de poesia.

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